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Voluntário da Fifa aponta 10 lições aprendidas durante a Copa das Confederações
Por João Paulo Castilho
Termina a
Copa das Confederações. Brasil foi campeão, Espanha vice. O evento que
foi o grande teste do Brasil antes da Copa do Mundo havia sido duramente
criticado pela população que pedia um país mais justo do que um estádio
bonito. Por mais que os protestantes estivessem certos (muitos ideais
concordados por mim), tive orgulho de ter ajudado a organizar a
competição, pois 1) foi uma grande chance de mostrar meu trabalho num
evento visado e badalado e 2) trouxe muitas histórias para contar a meus
filhos no futuro.
Após ser voluntário no amistoso Brasil x
Chile, no Mineirão, fui convocado pela FIFA a trabalhar no Centro de
Mídia (SMC) do mesmo estádio durante 15 dias e nos três jogos que Belo
Horizonte recebeu da competição. Então, aqui vão dez conclusões que
tirei deste voluntariado, que vai ficar eternamente marcado na minha
vida pessoal e profissional:
-
Ser voluntário da Copa das Confederações foi um sonho realizado que
durava quase seis anos. Desde o Pan de 2007 desejava atuar ativamente na
colaboração de um grande evento esportivo para ganhar o maravilhoso
uniforme e ver os jogos dentro do estádio. Sempre sonhei com essa roupa e
finalmente consegui. Sonhei em ver os jogos e vi partidas MEMORÁVEIS
(Foi maravilhoso ver o gol de honra do Taiti, os gols do Chicharito e o
da vitória brasileira sobre o Uruguai). Mas aprendi: ser voluntário não é
só vestir Adidas e assistir jogos de futebol: é vestir Adidas, poder
ver jogos e trabalhar duro para que o espetáculo saia da melhor maneira
possível.
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Ser voluntário foi muito legal porque pude fazer amizades de vários
lugares do mundo: pessoas que vinham desde o bairro Serra (BH), até
pessoas da América (Colômbia, Peru, México) e da Europa (Alemanha,
Holanda e França). Além disso, essa Copa me fez reencontrar dois
camaradas de longa data, que não via há tempos e que foram presenças
frequentes do Centro de Mídia do Mineirão: Guilherme “Piu” Guimarães (O
Tempo) e Tarcísio Badaró (TV Globo), sem falar dos amigos que fiz no
jogo Brasil x Chile, que não os via desde então. Aproveito a
oportunidade e deixo o meu forte abraço aos todos e obrigado por tudo.
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Ser voluntário da Copa das Confederações significou ser um
profissional muito melhor. Vi como funciona uma cobertura de torneios
internacionais, vi o funcionamento dos bastidores, vi como se organiza
uma transmissão de jogos, recebi conselhos bons, realizei trabalhos
próprios da imprensa, fiz outros que nada tem a ver com Jornalismo,
engoli alguns sapos, não engoli outros, levei puxões de orelha… Mas tudo
isso serviu para que eu amadurecesse profissionalmente e daqui pra
frente não só meu currículo estará mais enriquecido (afinal, trabalhar
na Copa das Confederações é pra poucos), mas principalmente a minha
capacidade profissional. Com a bênção de Deus, muitas portas abrirão
para mim no futuro e acredito sinceramente que vou ser um funcionário
infinitamente melhor do que era antes do início dos trabalhos no
Mineirão.
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Ser voluntário [vou copiar uma colega voluntária], me mostrou que
“há quatro tipos básicos de jornalistas: aqueles que sabem muito e são
humildes. Aqueles que não sabem nada e se acham os tais. Aqueles que
também não sabem nada, mas justamente por isso são humildes. E aqueles
que sabem TUDO, são humildes e trabalham como voluntários. Se algum
desses jornalistas chatos te tratar mal, apenas sorria. (Mas guarde bem a
cara dele para aquela hora da coletiva de imprensa movimentadíssima da
semifinal, em que você estará responsável pelos microfones, e ele estará
lá, levantando epilepticamente a mãozinha, doido para fazer uma
pergunta).” É nessa hora que o troco vem. Voluntário bobo e refém de
humilhação é o cazzo.
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Ser voluntário da Copa das Confederações foi a grande oportunidade
que tive de aprimorar na prática o meu espanhol. Perdi a vergonha e
encarei o desafio e corri o risco de ser achincalhado pelos europeus.
Passei no teste. Meu espanhol foi altamente elogiado por colombianos,
uruguaios, peruanos, mexicanos, argentinos e até mesmo por um jornalista
de Barcelona, que tratou os brasileiros com todo o respeito,
diferentemente de alguns atletas da Fúria. Graças a Deus, neste teste eu
fui aprovado.
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Ser voluntário da Copa das Confederações foi a oportunidade de
realizar o sonho de conhecer três dos jornalistas que eu mais admiro:
OSVALDO PASCOAL e ERALDO LEITE (Rádio Globo) e WAGNER MENEZES (Super
Rádio Tupi). Surpreendentemente, ambos foram atenciosos, gostaram do meu
conhecimento futebolístico e jornalístico e pude estreitar um futuro
relacionamento profissional com eles. De um mero fã, saí dessas resenhas
bate papo um futuro colega de trabalho deles. “Sonhar não custa nada”,
como diria a velha canção.
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Ser voluntário da Copa das Confederações me resgatou o ânimo de me
formar em Jornalismo. Estava desanimado com a profissão devido a vários
acontecimentos, em especial em 2012. Porém, a esperança renasceu. Tive
contatos maravilhosos com os jornalistas brasileiros e estrangeiros (em
especial os latinos) e ao vê-los trabalhar arduamente, vi que não posso
deixar a esperança apagar. Se ela é a última que morre, por que vou
desistir? A luta continua, minha gente!
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Ser voluntário da Copa das Confederações me deu uma das maiores
emoções da minha vida: Dia 26 de junho – Brasil x Uruguai no Mineirão,
mesmo dia em que completei 25 anos de idade. Nesta data pude trabalhar
num setor vital para o trabalho dos jornalistas e de quebra consegui ver
a partida nas arquibancadas nos braços do povo. Sou crítico forte da
seleção, admito, mas ver a onda verde-amarela foi lindo. Não aguentei e
torci pelo Brasil. Funcionou!
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Ser voluntário me fez tirar uma conclusão importante: se quiser
trabalhar com a imprensa na Copa do Mundo, TENHO QUE ME APROFUNDAR NO
INGLÊS. Não adianta vir o básico e ser nacionalista. Poucos se
interessam em falar o português e mesmo com a consciência de que eles
quem deviam falar a nossa língua, tenho que falar inglês razoavelmente
bem, se quero me tornar um grande profissional. Pedir para outro falar
para você é horrível e com isso perdi chance de conversar mais com eles e
de formar novas amizades.
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E o mais importante: ser voluntário me mostrou que agindo
naturalmente, todos nós iremos longe. Isso de tentar ser alguém só para
agradar meia dúzia, não funciona no mercado de trabalho. Humildade,
serenidade, raça, alegria, cortesia, perseverança e vontade de fazer
sempre o melhor, fizeram os voluntários de Belo Horizonte grandes fortes
elogios não só da imprensa, mas principalmente da cúpula da FIFA. Uma
grande honra para todos nós, que deram o máximo de si e que teve que
suportar a forte crítica dos opositores do torneio. E nesses 15 dias, vi
que ser cômico, falador e superdisposto não é tão ruim assim. Isso é
sinal de personalidade, inteligência e caráter. Só lamento àqueles que
nos chamaram de “vendidos da FIFA” e que “trabalho de graça”. Equívoco
total.
Deixo aqui o meu obrigado a todos os
meus coordenadores que nos mostraram como é o trabalho nos bastidores de
um evento esportivo e que tiveram a sensatez de nos orientar sem
autoritarismo. Fácil não é, mas trabalhamos com muita vontade e alegria
graças a essa serenidade. O mercado precisa disso. E agradeço do fundo
do meu coração aos meus colegas voluntários, que além de companheiros de
trabalho, foram professores um dos outros. Muitas lições e conselhos
foram tirados e ressalto: aprendi muito com vocês.
Propositalmente, deixo por fim a alegria
e a honra de trabalhar com a minha mãe, Mírian, que também foi
voluntária (Setor dos Espectadores). Professora aposentada, ela nunca me
deu aulas na escola, mas este vazio foi preenchido pelo prazer de ser
seu colega de trabalho. Essa alegria, dinheiro não paga. Já pude
trabalhar com o meu pai e a felicidade foi semelhante. Deus, obrigado
por esse momento.
Churchill já dizia: “o otimista enxerga
uma oportunidade em cada calamidade”. Eu sou otimista. Meu dia pode ser
amanhã ou em 2030, mas ele vai chegar. Eu acredito sempre, e vocês? Que
venha a Copa do Mundo em 2014, mais motivado e esperançoso do que nunca.
Críticas cairão sobre nossas cabeças, mas vamos passar por cima disso
tudo. Eu creio. Obrigado, Copa das Confederações. Obrigado, Mineirão.
Obrigado, meus amigos.
Por João Paulo Castilho
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