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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Reflexões de um voluntário sobre o programa Brasil Voluntário

por Renato Argôllo de Souza

Foto divulgação - Treinamento
UNB/Brasil Voluntário
Com motivação e ânimo para vivenciar uma primeira experiência de voluntariado, serviço a que pretendo me empenhar mais assiduamente, inscrevi-me no programa Brasil Voluntário, "programa de voluntariado do Governo Federal, criado para atender a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, gerido pelo Ministério do Esporte".

Após um período de treinamento a distância (via internet) e mais cinco sessões de treinamento presencial, como requisito (inquestionavelmente necessário) para atuar nos eventos compreendidos pelo programa, decidi compartilhar algumas reflexões sobre essa preparação, conduzida pela Universidade de Brasília (UnB), com o intuito de colaborar com a coordenação da UnB e o ministério que tem a gestão do programa.

A primeira consideração de natureza geral é a de que a UnB não se preparou adequadamente para realizar a capacitação dos voluntários. Soube por intermédio de uma professora da Universidade que a contratação da UnB pelo Ministério do Esporte somente ocorreu em janeiro deste ano. 

A Universidade teve e tem um tempo relativamente curto para a tarefa, diante da magnitude dos eventos, ainda mais que não tem experiência ou expertise na matéria. (O Cespe-UnB tem experiência com grandes concursos, mas obviamente são eventos de natureza bem distinta de uma copa de futebol de âmbito internacional.)

O treinamento a distância, pelo que se soube, não foi preparado pela UnB e teve falhas lamentáveis de natureza técnico-operacional. Uma consulta ao portal Brasil Voluntário na Internet, na seção Fórum, verificará as mais variadas críticas de voluntários inscritos no Programa. Acrescentaria apenas que, além das questões operacionais, o conteúdo do treinamento foi elementar, superficial, pouco acrescentado à preparação dos voluntários.

Voltando à UnB, ficou o sentimento de que a Universidade utilizou a capacitação dos voluntários como laboratório para os seus alunos, principalmente os dos cursos de Turismo, Psicologia e Artes Cênicas. 

Pareceu que a UnB, apesar do pouco tempo que teve, não cuidou de montar uma estrutura e agenda profissional para capacitar os voluntários, confiando essa tarefa a alunos, alguns, como se viu, demonstrando estar cursando ainda os primeiros anos do ensino superior, com pouca didática, sofrível material de apoio audiovisual e nítido nervosismo, embora todos com aparente muito boa vontade e motivação. 

Havia turmas de voluntários sem sequer um professor para acompanhar os alunos que atuavam como instrutores. A ideia de envolver os alunos é perfeitamente compreensível e plausível, mas deixá-los inteiramente sós não é sensato. Faltou, de fato, profissionalismo no trato da questão. E supõe-se que o Ministério do Esporte deve ter repassado boa soma de dinheiro para a UnB cuidar do assunto!

O conteúdo do treinamento foi absolutamente superficial, diante de uma expectativa de trabalho em dois eventos de grande porte, em que se vai lidar com situações das mais diferentes naturezas e algumas certamente complexas. 

Muito tempo foi gasto com abstrações teóricas e conceitos elementares, jogos cênicos (práticas recreativas seria o termo mais apropriado, já que apenas tangenciavam questões vivenciais) e quase nada se viu e ouviu sobre questões de ordem prática, com informações e recomendações que orientassem de fato os voluntários no trato de situações que irão enfrentar por ocasião da copa das Confederações e da Copa do Mundo.

Acrescente-se que o único material impresso distribuído aos voluntários – uma espécie de manual de 49 páginas – também é superficial e parece não ter passado por revisor e editor criteriosos. Difícil entender como o IBICT aparece como coeditor! Não deve ter lido o que foi preparado!... Até a metade da página 18 só contém abstrações teóricas e conceitos, além de trechos ("Atividade 4") confusos, certamente por má tradução de texto de um autor estrangeiro. Na segunda metade da página 18 até a metade da página 27 pode-se extrair algum conteúdo orientador. 

Mesmo assim, há muitos conceitos e abstrações, orientações esdrúxulas (veja-se primeiro parágrafo da página 23) e recomendação de que o voluntário vá atrás de informações – que a UnB mesmo não procurou obter para repassar aos voluntários. É como se dissesse: "o voluntário que se vire." O que, aliás, tem sido feito, para suprir as deficiências do treinamento. Curioso é que o conteúdo mínimo orientador do miolo do "manual" não foi explorado no treinamento presencial.

Da página 32 a 49 do "manual", uma síntese sobre Primeiros Socorros e Segurança, que ajuda a fixar as instruções recebidas dos policiais bombeiros. Ressalve-se que o treinamento sobre Segurança dado pelo pessoal do Corpo de Bombeiros, mesmo limitado a poucas horas, foi objetivo, prático e conseguiu efetivamente transferir aos voluntários orientações que certamente serão úteis durante os eventos programados e no dia a dia. Foi mesmo a parte mais proveitosa do treinamento.

Sobre o TOEIC, fica a dúvida se ele foi adequado, porque não pareceu suficiente para assegurar que quem o fez e obteve nota máxima está apto para sustentar uma conversação em inglês. Quem faz essas reflexões aqui não fala inglês, pouco sabe desse idioma, mas compreendeu o suficiente para afirmar que o teste foi fraco para o propósito almejado.

Voltando ao essencial, no treinamento a distância e no treinamento da UnB faltaram, sobretudo, INFORMAÇÃO e ORIENTAÇÃO PRÁTICA. Os voluntários vão lidar com gente da cidade e gente de fora da cidade em busca exatamente disso: INFORMAÇÃO, ORIENTAÇÃO. E não foram preparados para tal!

Ainda há tempo para prover os voluntários de conteúdo que efetivamente os ajudem a receber bem e orientar os turistas e os moradores locais por ocasião das duas Copas.

Cabe perguntar: Qual a integração entre UnB, Embratur, Ministério do Esporte, Ministério da Cultura, Secretaria de Turismo do DF (Setur), DFTrans e outros órgãos para a realização dos eventos programados? Tem-se a sensação de que essa interação não foi buscada, não existiu.

No dia do jogo-teste do Estádio Nacional Mané Garrincha, isso esteve muito evidente. Os voluntários foram chamados a se reunirem no estacionamento n° 13 do Parque da Cidade, em frente da Administração do Parque, para receberem orientações de como seria o trabalho naquela tarde. As informações dadas por uma senhora que se apresentou como da Setur e um senhor do DFTrans eram desencontradas, conflitantes, quando não impertinentes, para espanto dos voluntários.

Depois dos desencontros acertou-se a divisão dos voluntários em grupos, que se deslocariam para distintos lugares sob a orientação de um "coordenador de grupo". Para mais espanto, uma "coordenadora", que revelou ser professora da Secretaria de Educação do DF, perguntou o que era para fazer. Indagada se não tinha tido recebido orientação antes, respondeu que ali comparecera indicada para trabalhar com grupo de voluntários, mas que não tivera nenhum treinamento antes e desconhecia o seu papel e responsabilidades no evento!... De novo, pergunta-se: que entendimentos prévios aconteceram entre os diferentes órgãos envolvidos no evento? A quem competia a coordenação geral?

No mesmo dia, ainda no Parque da Cidade, foi distribuído um lanche e uma camiseta para cada voluntário. Na camiseta, logomarcas na parte da frente e a inscrição: VOLUNTÁRIO, assim em caixa alta, na parte de trás. Falta de imaginação total de quem "bolou" a camiseta! Ou seria exigência (absurda) dos patrocinadores com suas logomarcas? Pois todos os que eram abordados pelos voluntários para fornecer orientação de como se deslocar até o estádio pareciam olhar os voluntários com estranheza e desconfiança, porque, naturalmente, não conseguiam ler na camiseta a palavra VOLUNTÁRIO, nem muito menos associar a figura à sua frente com alguém prestando orientação sobre o grande evento do dia. Os voluntários de fato pareciam de início pregadores religiosos abordando fiéis apressados.

Sobre o lanche, deve ser lembrado que muitos voluntários, talvez o maior número convocado para o evento, estiveram a manhã inteira na UnB, cumprindo mais um módulo do treinamento presencial, e saiu da universidade diretamente para o encontro no Parque da Cidade. Um sanduíche e uma pequena lata ou garrafa de suco ou refrigerante talvez ficassem mais baratos e certamente seriam mais nutritivos do que o "kit" distribuído: uma caixinha de achocolatado, uma barrinha de cereal e um pacote de bolacha. Para aguentar até depois das 18:00 horas, após o final do jogo...

Sobre problemas para adentrar o estádio e dentro do estádio, melhor assistir aos muitos depoimentos gravados pelas emissoras de TV que cobriram o evento.

Então há muito ainda o que fazer antes do jogo de abertura da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. A propósito, o portal na internet do programa Brasil Voluntário fala que "atuação dos voluntários será integrada com o programa de voluntariado da FIFA". Quando e como isso acontecerá?

A UnB precisa analisar urgentemente as deficiências do treinamento e prover as informações e orientações necessárias. Perguntas que não foram formuladas durante o treinamento e que devem estar incomodando os voluntários, particularizando o caso de Brasília:

– Centos de Atendimento aos Turistas (CATs). Quantos são, onde estão localizados e qual o horário de funcionamento dos CATs? O pessoal de coordenação do treinamento sabe? Se sim, faltou dizer aos voluntários. É bom lembrar à Setur-DF que seria oportuno instalar mais CATs, sinalizar melhor os que já existem, dotá-los de material informacional e divulgar a sua localização. A entrada e a fachada com letreiro do CAT da Asa Sul estão voltados para o interior do setor; quem passa pelo local na Av. W3 Sul e quem está hospedado nos principais hotéis da Asa Sul não saberá o que há naquele quiosque. Na semana que antecedeu o jogo-teste só havia naquele CAT mapas da cidade apenas para uso pessoal da atendente; não havia exemplares para distribuir a turistas.

A propósito, uma ida à sede da Setur-DF (quem sabe onde fica?) revelará que faltam mapas atualizados de Brasília (há um com tiragem quase esgotada) e, principalmente, informações sobre horários de visita de principais pontos turísticos da cidade. Em 1999, por ocasião do Brasilia Convention & Visitos Bureau, imprimiram um mapa completíssimo com essas informações. Curiosamente há uma boa publicação com muita informação, mas ... em ITALIANO. Ressalve-se que na sede da Setur há uma ótima publicação – Guia Abrasel – com informações úteis sobre gastronomia (restaurantes, bares|) e turismo. Quantos conhecem essa publicação? E na Câmara dos Deputados há um folheto muito bom – Turismo Cívico em Brasília – com informações sobre o horário de visita de 12 pontos turísticos da cidade. Quantos conhecem esse folheto?

– Localização dos voluntários. Onde e como serão distribuídos os voluntários na cidade? Por ocasião do jogo-teste, além do problema da camiseta mencionado, ficou patente a falta de pontos fixos para os voluntários, com uma mesa ou pequena bancada com "banners" sugestivos na saída do metrô, na rodoviária, e em outros pontos. Para o jogo do dia 15/6, isso poderia ser providenciado com "banner": COPA DAS CONFEDERAÇÕES. PODEMOS AJUDAR?

– Atendimento médico de urgência. Durante o jogo da Copa das Confederações e os jogos da Copa do Mundo haverá postos móveis de atendimento médico próximos ao estádio e aos setores hoteleiros? Onde? Com quais horários de funcionamento? Além desses, quais são os telefones de Plantão Médico da Cidade ou dos hospitais mais próximos? Qual o número de telefone do SAMU?

– Mobilidade / Transporte. Quais as linhas, itinerários e pontos extras de parada de ônibus que serão disponibilizados e reforçadas para atender à população local e turistas durante os eventos? Onde estão ou estarão localizados os pontos de táxis no centro da cidade e nos locais de maior concentração e movimentação de pessoas durante os eventos?

– Acesso ao estádio. O voluntário e o turista não terão um folheto ilustrativo com a estrutura do estádio, onde seja possível localizar os portões de acesso e os setores numerados de cadeiras? Se sim, quando estará disponível esse folheto?

– Troca de moeda. Onde se localizam ou se localizarão, durante os eventos, casas de câmbio para que turistas estrangeiros possam cambiar dinheiro? Qual o horário de funcionamento dessas casas de câmbio?
– Correio. Além da agência da ECT no Setor Hoteleiro Sul, haverá outros postos de atendimento durante os eventos. Com quais horários de funcionamento?

– Eventos paralelos. Qual a agenda eventos na cidade por ocasião dos jogos? Não se vai programar nada de especial para a ocasião? Cabe pensar sobre a conveniência de preparar e divulgar uma agenda dos eventos que ocorrerão antes, durante e logo após os jogos, em Brasília e cidades próximas.

– Contato. Qual ou quais são os telefones da coordenação geral dos voluntários para eventuais usos em caso emergencial ou de necessidade de informação complementar?

Certamente haverá outras perguntas. Alguns poderão entender que essas perguntas serão respondidas por profissionais de turismo ou que os voluntários não terão de se preocupar com elas. Se for assim, cabe então perguntar: qual será mesmo o trabalho do voluntário?

Se pertinentes, não seria o caso de se preparar, realmente, um manual do voluntário?

O treinamento foi dado como terminado e a questão central do trabalho do voluntário ainda parece nebulosa. Como outros voluntários poderão agregar também críticas e sugestões (alguns têm se manifestado pelo Portal na internet), e a coordenação poderá também se manifestar, resta aguardar um pouco mais. Tomara que não deixem para a última hora.

E vocês, concordam? Comentem sobre o assunto!

Reflexões postadas em 3 de junho de 2013
por Renato Argôllo de Souza

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