O
ministro do Esporte fala sobre os desafios dos próximos três anos,
gastos públicos, Palmeiras, a infância de jogador de futebol,
nacionalismo e seu amor pelos cavalos.
Entre um compromisso de
Copa do Mundo e outro de Olimpíada, Aldo Rebelo acompanha seu Palmeiras.
Esperançoso de que o time vai voltar à primeira divisão e chegará com
tudo a 2014, ano do centenário.
Aos 57 anos, este alagoano de
Viçosa, comunista e nacionalista ferrenho, está à frente dos dois
eventos esportivos mais importantes da história do País. E enxerga neles
a chance de mostrar ao mundo um outro Brasil - apesar dos muitos
problemas que permanecerão intocados mesmo com os bilionários
investimentos do governo e da iniciativa privada.
O ministro do
Esporte falou à coluna em seu apartamento em SP - cercado de objetos com
o escudo do clube do coração e imagens de D. Quixote -, às vésperas de
mais um tour internacional: primeiro, as Ilhas Maurício (onde participou
de um congresso da Fifa); depois, Nova York, para palestrar sobre
futebol na sede da ONU. A seguir, os melhores momentos da conversa.
É mais fácil fazer uma Copa e uma Olimpíada ou trocar o Halloween pelo Dia do Saci?
(risos)
Acho que o Halloween é um modismo que passa. O saci, personagem de um
grande escritor, como Monteiro Lobato, e mascote de um grande time, que é
o Internacional de Porto Alegre, tem mais raízes do que o Halloween. É
algo muito brasileiro.
Está animado com a Copa das Confederações?
Estou. Inclusive com a seleção. Apesar de o torneio ser muito menor do que a Copa do Mundo, no ano que vem.
O desafio dos aeroportos não será esse torneio?
Não
será. Durante a Copa do Mundo é que teremos realmente um fluxo enorme.
São mais de 600 mil estrangeiros e em torno de 3 milhões de brasileiros
se deslocando pelas doze sedes. A Copa é muito mais exigente em
infraestrutura, logística e serviços.
Falou-se muito que a Copa
do Mundo seria um evento da iniciativa privada. Mas, com o passar do
tempo, o que se viu foi o governo pagando boa parte da conta. O que deu
errado?
Nada. Esta é uma Copa com recursos privados. O governo
investe em obras para a população. Obras que seriam feitas
independentemente da realização do torneio - a maioria delas faz parte
do PAC. Evidente que muitas foram antecipadas para atender as
necessidades da Copa. No caso dos aeroportos, por exemplo, eles seriam
reestruturados mesmo que não houvesse Mundial. A melhoria na mobilidade
(metrô, VLT, trens, viadutos, avenidas) também aconteceria.
O governo entregará a infraestrutura toda para o Mundial?
O
que a Fifa pede é que entreguemos os estádios, as vias de acesso aos
aeroportos e a rede hoteleira. Todo o resto é uma "matriz de
responsabilidades" confeccionada por prefeituras, estados e governo
federal. Os três entes, reunidos, decidiram que, para melhorar as
condições de realização da Copa, seriam necessárias mais obras. A maior
parte será entregue, sim, dentro do prazo.
Até que ponto o mau
relacionamento entre a presidente Dilma e o presidente da CBF, José
Maria Marin, pode afetar as cerimônias oficiais da Copa?
Mas
quem disse que há um mau relacionamento? Não há crise entre o governo e o
COL. Conduzimos nossa relação com o Comitê de forma institucional. A
presidente Dilma nunca estabeleceu veto ao senhor José Maria Marin. Não
houve foi oportunidade ou necessidade desse encontro.
O senhor já defendeu que haja participação do governo no futebol brasileiro...
O
esporte carrega o interesse público nacional. O esporte educacional, de
lazer, de alto rendimento. E o governo tem de encontrar instrumentos
para preservar esse interesse. Isso eu defendo. Acho que, no caso da
seleção brasileira, é uma instituição que carrega o nome do País, as
cores do País. O governo tem de ter a capacidade de fixar ou defender
regras que preservem o interesse público na prática do esporte.
Em relação à Olimpíada, como estão os gastos do governo?
Aí,
sim, de uma forma distinta, a Olimpíada é um evento muito mais público,
que requer investimento do governo. Temos de construir os equipamentos
esportivos, a vila olímpica. Sem falar no investimento na preparação dos
atletas. Claro que contamos com a participação importante dos clubes,
que também apoiam e ajudam. Mas é um esforço grande, do governo, das
empresas estatais, que patrocinam o basquete, o vôlei, a ginástica, o
atletismo. Estamos procurando construir um legado - fazer 5 mil quadras,
cobrir outras 5 mil, construir 253 centros de iniciação ao esporte.
Qual o desafio de assumir o ministério após a saída conturbada de Orlando Silva, envolvido em denúncias de corrupção?
Eu peguei a parte mais fácil. Complicado era trazer a Copa e a
Olimpíada para o Brasil. Isso já tinha sido feito. O resto não tem
mistério, não tem segredo. O que tem é muito trabalho. Difícil mesmo foi
ser relator do Código Florestal.
Ficou satisfeito com o Código?
Fiquei,
sim. Foi um avanço, que deu garantias para a defesa do meio ambiente e
segurança aos agricultores, algo muito importante para o Brasil.
Qual a emoção para o senhor, um conhecido nacionalista, de ver uma Copa do Mundo sendo realizada no Brasil?
O
Brasil não é só um país, uma nação, mas um projeto civilizatório
próprio, distinto. Darcy Ribeiro dizia que somos uma espécie de Roma
renovada, mais democrática, porque batizada e lavada pelo sangue
africano e indígena. O Brasil já fez coisas muito difíceis, como
expandir suas fronteiras para o oeste. A gente corria o risco de se
tornar um "Chile do Atlântico". O Brasil precisa desses eventos para
mostrar ao mundo que é capaz de fazer grandes coisas e que não alimenta o
ódio nem a intolerância.
Está esperançoso com o seu Palmeiras? Acha que volta para a primeira divisão?
Claro que volta. Mas tem de respeitar todos os adversários. A série B é
um torneio muito difícil. Eu fui a Itu ver a estreia, vitória apertada
contra o Atlético-GO. Será o ano inteiro assim. Mas temos condições de
vencer e marchar para o centenário, em 2014, ambicionando títulos
importantes. Até porque já teremos o nosso belo estádio.
Gostou do projeto da arena?
Quando ficar pronta, será a mais bonita do Brasil... e do mundo!(risos)
Quando jovem, o senhor jogava futebol?
Era
lateral-direito. Mas, como todo menino, comecei lá na frente, querendo
ser centroavante. Aí me disseram que não era o meu ramo, eu devia ir
para o meio. Dali fui para a zaga, e acabei no gol. A gente jogava no
ginásio, em Viçosa, interior de Alagoas. Depois, fundei um time com os
amigos - uma homenagem ao Galicia, da Bahia. E, acho, o primeiro naming
rights de clube. Pedimos contribuição aos comerciantes locais e um deles
era baiano. Ajudou muito, sob a condição de a gente batizar o time como
Galicia.
O que o senhor costuma fazer no tempo livre?
Costumo
ler bastante e vejo muito esporte na TV. Agora mesmo estou lendo uma
biografia do marechal Lott, chamada Soldado Absoluto. E o romance Trem
Noturno para Lisboa.(sobre a mesa da sala, chama a atenção o livro Da
Felicidade, de Sêneca).
O senhor também é cavaleiro dos bons...
Esta
semana mesmo cavalguei em São Pedro, perto de Piracicaba. Cavalgo
sempre em Brasília, no regimento de cavalaria do Exército. Além disso,
criei a Cavalgada da Independência, que sai de Santos, de onde D. Pedro I
saiu, e vai até o Ipiranga. E também a Cavalgada da Liberdade, em
homenagem a Zumbi dos Palmares.
O amor pelos cavalos vem da infância?
Herdei de meu pai, que era vaqueiro. Com 3 anos de idade, ele me pôs em uma sela. Não saí mais.
Depois do Ministério do Esporte, o senhor pensa em algum outro desafio político?
Vou fazer esse serviço primeiro. Já me dá bastante trabalho.