Ministro do Esporte defende mudança no horário dos jogos e diz que sistema atual pode afastar público dos estádios
O
ministro Aldo Rebelo (Esporte) quer discutir um novo horário para a
realização das partidas de futebol à noite durante a semana, um dos
pontos nevrálgicos da programação da TV Globo e que gera pagamentos
milionários aos clubes em troca do direito de transmissão.
Em
entrevista exclusiva à Folha, Aldo Rebelo diz que os jogos às 22h
durante a semana são um "problema" e que é "evidente" que o mercado está
prevalecendo em relação ao interesse público.
Sem citar a Globo,
o ministro diz que já iniciou as tratativas com os clubes e com os
"detentores dos direitos de transmissão" e, até agora, a ideia de mudar o
horário não sofreu resistência. Para Rebelo, a Copa das Confederações
foi um "sucesso" e mereceu nota 9 (a Fifa deu nota 8).
Folha - Como é hoje a relação do governo com José Maria Marin, presidente da CBF?
Aldo Rebelo - São relações normais, institucionais. Temos uma responsabilidade comum de organizar a Copa.
Por que a presidente Dilma nunca teve uma audiência com Marin?
A
presidente já esteve em várias ocasiões públicas com o presidente da
CBF. Eu nunca recebi um pedido oficial de audiência com a presidente
Dilma. Portanto não há como se dizer que ela tenha se negado a receber o
presidente Marin, isso não é verdade.
Por que a seleção não foi a Brasília encontrar a presidente?
Não
havia como viabilizar uma viagem de última hora. Todos tinham
compromisso imediatamente após o jogo e não estava prevista essa vinda. A
seleção pode vir a qualquer hora. Seria até injusto achar que houve da
parte da CBF qualquer tentativa de impedir a seleção de vir.
A Fifa só quer lucrar com a Copa no Brasil?
A
Fifa é sem fins lucrativos, mas convive com patrocinadores com fins
lucrativos. A Fifa tem virtudes, transformou o futebol num esporte
universal. O futebol traz a projeção daquilo que a sociedade considera o
ideal, onde as regras são simples, valem para todos e os méritos e as
virtudes valem para todos.
O mercado e o lucro podem representar
um risco de transformar nossos ídolos numa parte de uma engrenagem.
Corremos o risco de transformar [o futebol] em uma mercadoria que pode
afastar o povo dos estádios.
Na Copa, é difícil porque é, de
fato, um espetáculo para um universo pequeno dentro do universo
interessado. Mas penso mais é na coisa permanente, no dia a dia dos
campeonatos brasileiros. Como é que você tira um torcedor do estádio,
principalmente os mais pobres?
O jogo às 22h não é um problema?
Evidente que é.
E não há nada que o governo possa fazer sobre isso?
Não
digo nada, porque o governo pode tentar sempre. Se não por imposição
legal, o governo pode ter uma capacidade de mediação e deve ter. É
preciso equilibrar entre o que o mercado dá e o que mercado tira.
Remunerar melhor e melhorar a capacidade dos estádios é uma coisa boa,
mas não se pode transformar isso simplesmente numa mercadoria porque
isso pode tirar do futebol o seu encanto.
Quando se faz um jogo às 13h em Salvador ou na quarta-feira às 22h, é o mercado prevalecendo?
Evidente.
Não é uma coisa pública, talvez seja melhor o interesse público.
Perguntaram por que fazer a final da Copa das Confederações à noite,
quando o mais lógico seria no domingo à tarde. Imagino que tenha sido o
mercado também. Esse é um dos problemas [jogo às 22h], naturalmente.
Do ponto de vista do governo, como o horário pode ser discutido?
Isso
é uma negociação entre clubes e detentores dos direitos de transmissão.
Então é preciso abordar esses interessados. Tem que ser resolvido
levando em conta o interesse público do torcedor, do organizador e dos
clubes. Eles têm que se manifestar. Já abordei essa questão com parte
dos interessados e não vi nenhuma resistência em conversar.
Como o governo avalia a Copa das Confederações?
Foi
um sucesso. Não foi 100% de superação, mas resolvemos. Foi nota 9.
Faltou a entrega [dos estádios] dentro do tempo [dezembro de 2012]. Não
pudemos fazer todos os testes e isso indicou problemas que teriam sido
antecipados. Precisamos para a Copa ter mais rigor nos prazos e nos
testes, mas os estádios de alta qualidade foram entregues.
São os estádios mais caros do mundo também, não?
Não
é assim. O preço, quando você calcula a partir do preço do assento,
está na média da África do Sul. Nossos custos são mais caros, o Brasil
hoje é um país muito caro em tudo, em impostos.
Uma das principais reclamações dos protestos era sobre a Copa...
Os
manifestantes se preocuparam com saúde, educação, transporte e
segurança. Cobram que a qualidade e o padrão dos serviços tenham
paralelo com o padrão dos estádios. Isso não significa contestação à
Copa. O próprio Datafolha, depois das manifestações, revelou que 65% da
população continuam a favor da Copa no Brasil.
Como o senhor vê a vaia à presidente Dilma?
Nelson
Rodrigues advertiu, dando o exemplo do Maracanã, que vaiava até minuto
de silêncio. É uma tradição no Brasil. Não é nada pessoal.
O senhor pretende deixar o ministério?
Pretendo,
mas não sei quando nem para qual cargo. Se eu sair, uma data limite é
dezembro, porque já tem a entrega dos estádios, e aí se fecha um ciclo.