Por Pedro Trengrouse. Consultor da ONU (Organização das Nações
Unidas) na Copa e coordenador de projetos da Fundação Getulio Vargas.
Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo.
Os
estádios não estão mais caros que os das últimas Copas. Não é razoável
colocar os problemas nacionais crônicos na conta da Fifa
O PIB do
Brasil é de R$ 4,4 trilhões e todos os investimentos previstos na
Matriz de Responsabilidades da Copa, que congrega as obras que o governo
julga relevantes para a realização do evento, estão na ordem de R$ 25
bilhões.
O montante é destinado às mais diversas áreas
prioritárias de infraestrutura e serviços, como, por exemplo,
aeroportos, mobilidade urbana, segurança, turismo, saúde e
telecomunicações.
É evidente que não houve contingenciamento no
orçamento público noutras áreas em razão da Copa. O PAC 2 (Programa de
Aceleração do Crescimento), por exemplo, investiu R$ 557,4 bilhões em
infraestrutura até junho deste ano.
E, embora ainda aquém dos
padrões recomendados pela OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), os recursos aplicados em educação e saúde quase
triplicaram nos últimos dez anos, com os investimentos em políticas
sociais chegando a R$ 656 bilhões em 2012.
A rigor, no que diz
respeito à Copa, essencial mesmo são os estádios, cujos custos totais
estão em R$ 7 bilhões, divididos em R$ 3,7 bilhões financiados pelo
BNDES, R$ 2,7 bilhões a cargo dos governos locais e R$ 612 milhões em
investimentos privados. São nove estádios públicos e três privados.
Ainda assim, considerando que os financiamentos do BNDES devem ser pagos
pela operação privada das arenas, os investimentos públicos diretos
representam menos de 40% do total.
E mais. Não é verdade que
estejam mais caros que nas últimas Copas. O estádio mais caro do Brasil
custou pelo menos três vezes menos que Wembley e, segundo estudo de uma
ONG dinamarquesa, os custos médios por assento no Brasil estão no mesmo
patamar de US$ 5.000 que Japão, Coreia e África do Sul, pelo menos 20%
menores do que Green Point e Sapporo Dome, por exemplo.
Os novos
estádios serão muito mais utilizados pelo futebol brasileiro do que pela
Fifa. Conforme dados da Fundação Getulio Vargas (FGV), o futebol hoje
movimenta R$ 11 bilhões por ano e gera 370 mil empregos no Brasil. Mas
poderia movimentar R$ 62 bilhões por ano e gerar 2 milhões de empregos,
principalmente com a modernização dos estádios e ajustes no calendário,
gestão e governança dos clubes. Com ou sem Copa, já valeria a pena
investir nos estádios brasileiros.
O BNDES é o maior banco de
desenvolvimento do mundo, superando o Banco Mundial em volume de
operações. Desde 2008, quando as sedes da Copa do Mundo no Brasil foram
anunciadas, o BNDES desembolsou no total mais de R$ 700 bilhões em
financiamentos diversos.
Trocando em miúdos, o investimento nos
estádios representa muito pouco diante dos grandes números do banco, que
poderia ousar bem mais para promover o desenvolvimento do futebol
brasileiro enquanto atividade econômica relevante para o arranjo
produtivo e para a identidade cultural brasileira.
Um estudo da
FGV mostra que a o total de aportes na Copa pode quintuplicar. Além dos
recursos previstos na matriz, a competição deve injetar R$ 112,79
bilhões na economia brasileira, movimentando o total de R$ 142,39
bilhões adicionais entre 2010 e 2014, com a geração de 3,63 milhões de
empregos por ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população. Ainda
assim, é preciso enxergar o evento na perspectiva global da economia.
A
maioria das obras relacionadas à Copa são realmente essenciais para
melhorar a infraestrutura do país. O Brasil é o país do futebol e já
precisava de melhores estádios para desenvolver seu pleno potencial de
geração de emprego e renda.
O maior legado da Copa do Mundo para o
Brasil seria mesmo uma profunda transformação no futebol brasileiro. Não
é razoável colocar problemas nacionais crônicos na conta da Fifa.
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